quarta-feira, 30 de junho de 2010

A Nova Aliança

por Keith Mathison

A Epístola aos Hebreus é uma declaração da absoluta supremacia de Jesus Cristo. Afirma que Jesus é superior aos anjos (caps. 1 e 2), a Moisés (3.1-4.13) e a Arão (4.14-7). Cristo exerce um sacerdócio superior (8.1-10.18) e inaugurou uma aliança superior (10.19-13).
Em toda a epístola, encontramos a ênfase sobre o que é novo e melhor. Por exemplo, Hebreus 7.12 afirma: ”Quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei”. Uma vez revogada a ordenança anterior, “por outro lado, se introduz esperança superior” (7.18-19). Jesus mesmo é o fiador de “superior aliança” (7.22). Hebreus 8.6 explica: “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas”. Hebreus 8.7 nos diz que, “se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda”. E, depois de citar a promessa da nova aliança encontrada em Jeremias 31.31-34, o autor de Hebreus afirma: ”Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer” (8.13).
Essas observações em Hebreus e outras no Novo Testamento têm levado alguns a questionarem se Deus cometeu um erro na antiga aliança. Deus foi obrigado a abandonar seu plano inicial e introduzir emergencialmente um plano reserva? O fato de que a antiga aliança se tornou antiquadaimplica que a nova aliança era um “plano B”? A resposta é não. A inauguração de uma nova aliança por parte de Deus não significa que Ele cometeu um erro na antiga aliança. No entanto, a razão disso talvez não seja imediatamente percebida.
A resposta dessa pergunta se torna mais clara quando examinamos Jeremias 31.31-34. Nesta passagem, o profeta prevê a inauguração da nova aliança. O autor de Hebreus cita aquela profecia. Para entendermos a sua explicação da profecia, temos de entender o contexto em que ela foi escrita. Temos de lembrar que a Epistola aos Hebreus foi escrita para judeus convertidos ao cristianismo que sofriam perseguição por causa de sua fé. Eram tentados a retornar aos ritos e cerimônias da antiga aliança, a fim de evitarem a perseguição. O autor de Hebreus lhes diz que retornar às cerimônias da antiga aliança seria futilidade extrema, pois Deus nunca tencionara que aquela aliança fosse permanente. Para defender seu argumento, ele direciona os leitores ao texto de Jeremias, no Antigo Testamento.
O autor de Hebreus introduz sua explicação de Jeremias 31 recordando-lhes que, “se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda” (8.7). Com essas palavras, ele estava dizendo que a promessa do Antigo Testamento quanto a uma nova aliança implicava que aquela parte das Escrituras previa a natureza temporária da “antiga” aliança. Uma ”nova” aliança seria desnecessária, se Deus tencionasse que a antiga permanecesse para sempre. O autor de Hebreus torna isso mais claro em 8.13, quando afirma a respeito da passagem de Jeremias: ”Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira”. Quando Jeremias prometeu uma nova aliança, deu a entender automaticamente que a primeira aliança era “antiga” e temporária. Em outras palavras, o plano de Deus sempre incluiu, desde o começo, a introdução de ambas as alianças. Ele não cometeu um erro ou teve de recorrer a um “plano B”. Cada aliança era adequada a um tempo específico na história da redenção.
O fato de que Deus sempre planejou a inauguração de uma nova aliança suscita a questão da continuidade. Se Deus introduziu uma nova aliança em Cristo, há alguma continuidade entre as duas alianças – a velha e a nova? Na história da igreja, existem aqueles que têm argumentado haver pouca ou nenhuma continuidade entre as duas alianças. Argumentam que toda a antiga aliança foi substituída pela nova. Os que defendem essa posição propõem que nada no Antigo Testamento é relevante e diretamente aplicável à igreja.
Existem outros que têm sugerido haver pouca descontinuidade entre as alianças e que as mudanças realizadas pela inauguração da nova aliança foram essencialmente “decorativas”. Aqueles que defendem essa posição argumentam que muito do Antigo Testamento é diretamente aplicável à igreja em nossos dias. Alguns dos que sustentam essa opinião afirmam que os cristãos têm de continuar a observar o sábado no sétimo dia ou têm de continuar a observar os dias de festas do Antigo Testamento.
Ambos os extremos devem ser evitados. Entre as duas alianças, tanto há continuidade como descontinuidade. Embora haja muitos em nossos dias que lêem passagens como Hebreus 8.13 e concluem que não há continuidade entre as alianças, uma análise mais atenta de Hebreus 8 e do lugar da nova aliança na história da redenção revela que tal conclusão é prematura.
Um dos ensinos mais óbvios da continuidade entre as duas alianças se acha na própria promessa da nova aliança. O autor de Hebreus cita, em 8.8-12, a profecia de Jeremias acerca da nova aliança. No versículo 10, lemos: “Esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”. Encontramos um ponto de continuidade na expressão “minhas leis”. Na antiga aliança, Deus escreveu suas leis em tábuas de pedra (Êx 24.12). Na nova aliança, Ele as escreve no coração de seu povo, a fim de substituir o pecado que está gravado ali (Jr 17.1). No entanto, aquilo que está gravado no coração do povo de Deus é essencialmente o mesmo que foi escrito nas tábuas de pedra. O aspecto da lei que reflete mais fundamentalmente a justiça de Deus permanece o mesmo.
Outra maneira de explicar a continuidade entre a antiga e a nova aliança é aplicar a ilustração que Paulo usou em Gálatas 3.24-25. Ele escreveu: ”De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio”. O ”aio” (no grego, paidagogos) era um escravo que tinha a função de levar o menino à escola, trazê-lo de volta e supervisionar sua conduta. Quando o menino crescia, o “aio” não era mais necessário. Essa analogia pode ajudar-nos a entender melhor os elementos de continuidade entre as alianças.
O aspecto da ilustração que se aplica à continuidade é este: uma vez que o menino se tornava adulto, o aio ficava obsoleto, mas o que ele havia ensinado ao menino permanecia inalterado. Paulo usou essa analogia de crescimento da infância à maturidade como um meio de visualizar o povo de Deus através da história de redenção. A antiga aliança foi idealizada para o povo de Deus em sua ”infância”. Quando o povo de Deus chegou ao estado de “adulto”, o ”aio” não era mais necessário. Agora, ele é obsoleto. Mas aquilo (“minhas leis”) que o “aio” ensinou ao menino permanece o mesmo, embora ele tenha se tornado adulto.
Jesus Cristo é o ponto central em que a antiga e a nova aliança se encontram. A antiga aliança, como um aio, prepara o caminho e o povo para Ele. A antiga aliança incluía aquilo que tem sido descrito como “lei moral”, bem como aquilo que era simbólico. Aquilo que era simbólico sofreu mudanças quando chegou a realidade para a qual os símbolos apontavam. Quando a aurora raiou, as sombras desapareceram (cf. 10.1).
Agora, o povo de Deus é definido em termos de sua relação com Jesus (cf. Gl 3.16, 29), e não de sua relação com Jacó/Israel. A Terra Prometida é definida em termos de toda a criação (cf. Mt 5.5; Rm 4.13), e não de um espaço geográfico na costa leste do mar Mediterrâneo. O templo é definido em termos de Jesus Cristo e o seu povo (cf. Jo 2.21; 1 Co 3.16; Ef 2.21), e não de um edifício de pedra e argamassa. As leis cerimoniais são definidas em termos da morte expiatória de Cristo (cf. Hb 9.11-10.11), e não do sangue de bodes e novilhos.
No entanto, a lei moral – aquilo que revela os padrões eternos e universais de justiça – não muda. Embora esteja escrita no coração do povo de Deus, e não em tábuas de pedra, essa lei permanece a mesma.
Keith Mathison é dos excelentes livros: Postmillenialism: An Eschatology of Hope, Dispensationalism: Rightly Dividing the People of God, Given for You: Reclaiming Calvin’s Doctrine of the Lord’s Supper, The Shape of Sola Scriptura, e From Age to Age.
Fonte: Revista Fé para Hoje – Editora Fiel   (via site Monergismo)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Calvino - Sabedoria e Mistérios de Deus

"Quando os homens quiserem fazer pesquisa sobre a predestinação é preciso que se lembrem de entrar no santuário da sabedoria divina. Nesta questão, se a pessoa estiver cheia de si, e se intrometer com excessiva autoconfiança e ousadia jamais irá satisfazer a sua curiosidade. Entrará num labirinto do qual nunca encontrará saída, porque não é certo que as coisas que Deus quis manter ocultas e das quais ele não concede pleno conhecimento sejam esquadrinhadas dessa forma pelos homens. Também não é certo sujeitar a sabedoria de Deus ao critério humano e pretender que este penetre a sua infinidade eterna. Pois Ele quer que sua altíssima sabedoria seja mais adorada do que compreendida (a fim de que seja admirada pelo que é). Os mistérios da vontade de Deus que ele achou bom comunicarmos, Ele nos testificou em Sua Palavra. Ora, ele achou bem comunicar-nos tudo o que viu que era do nosso interesse e que nos seria proveitoso".



"E não nos envergonhemos por ignorar algo deste assunto, no qual há certa ignorância mais douta que o saber. Melhor faremos em dispor-nos a abster-nos de um conhecimento cuja exibição é estulta e perigosa, e até mesmo perniciosa. Se a curiosidade de nossa mente nos solicitar que investiguemos tudo, sempre teremos em mãos esta sentença para rebater esta pretensão: 'quem esquadrinhar a majestade de Deus será oprimido por Sua glória'." (Institutas, Livro III, capítulo 1 e 2).

“Eis um bom marco memorial da sobriedade: se em nossa aprendizagem ou em nosso ensino seguirmos a Deus, tenhamo-lo sempre adiante de nós. Contrariamente, se Ele parar de ensinar, paremos de querer continuar a ouvir e a entender” (João Calvino, As Institutas: Edição Especial para Estudo e Pesquisa, III.8)

“É estulto e temerário de cousas desconhecidas mais profundamente indagar do que Deus nos permita saber” (João Calvino, As Institutas, III.25.6)

“Portanto, que esta seja nossa regra sacra: não procurar saber nada mais, senão o que a Escritura nos ensina. Onde o Senhor fecha seus próprios lábios, que igualmente impeçamos nossas mentes de avançar sequer um passo a mais.”

Fonte: O Tempora O Mores

Salvos pela Graça

1 - O contraste entre fé e obras na Bíblia é na verdade entre a graça de Deus e o mérito humano, pois a fé sempre é vista como alguma coisa que o próprio Deus concede. Veja estas passagens:

"Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus" (Ef 2:8)

"Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. 17 Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus" (Mat 16.16-17).

"Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6.44).

"Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia" (At 16.14).

"Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele" (Fil 1.29)

"Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna" (At 13.48).

2 - Por causa do pecado, o homem é incapaz não somente de praticar boas obras mas inclusive de crer no Evangelho. Veja estas passagens:

"Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas" (Jo 10.25-26)

"Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6.44).

"E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele, 38 para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? 39 Por isso, não podiam crer, porque Isaías disse ainda: 40 Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados." (Jo 12.37-40)

"Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1Co 2.14).

"Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, 2 nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; 3 entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais". (Ef 2.1-3)

"como está escrito: Não há justo, nem um sequer, 11 não há quem entenda, não há quem busque a Deus; 12 todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. 13 A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, 14 a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; 15 são os seus pés velozes para derramar sangue, 16 nos seus caminhos, há destruição e miséria; 17 desconheceram o caminho da paz. 18 Não há temor de Deus diante de seus olhos" (Rom 3.10-18).

3 - Portanto, se entregue a si mesmo, o homem jamais poderá escolher e crer em Deus. Ele está morto em seus pecados, é surdo para as coisas de Deus, não as compreende e não as deseja. Na verdade, ele está em estado de inimizade contra Deus, veja estas passagens:

"Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. 8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Rom 8.5-8).

Quando eu olho para minha experiência de conversão em 1977 cada vez mais me convenço que se Deus não tivesse me habilitado a crer, eu ainda estaria na minha incredulidade e cegueira.



Augustus Nicodemus

Fonte: O Tempora O Mores 

Calvino - Eleição

João Calvino afirma:
“Tratemos agora dos réprobos, de quem o apostolo fala também na passagem já indicada, associando, ao mesmo tempo, os eleitos (Rm 9.13). Ora, como Jacó, sem ainda nada merecer por suas obras, é recebido à graça; assim também Esaú, ainda de nenhum inclinado ao delito, é dito em ódio. Se volvermos nossos olhos para as obras, fazemos grave injuria ao apostolo, como se ele não percebesse como algo obvio aquilo que para nós é claro. Com efeito, que ele não percebeu é fácil de ser provado, uma vez que ele insiste expressamente, dizendo que não havia ainda nada de bom ou mau a ser mostrado de que um eleito e o outro rejeitado; de sorte que assim prova que o fundamento da predestinação divina não está nas obras.” (Institutas Clássicas p.407, 408)

Fonte: Comentários no blog "O Tempora O Mores"

Spurgeon - "Sermões sobre a salvação"

Charles H. Spurgeon diz:
“A próxima inquirição é: "Por que Deus odiou Esaú?" Esta é uma questão bem diferente da primeira. É necessário uma resposta bem diferente. Por que Deus odeia alguém? Todo homem merece ser odiado por Deus. Há pessoas que dizem que foi por causa da Sua soberania que Deus odiou Esaú. Não penso ser essa a resposta correta. Não penso que Deus criou o homem com a intenção de condená-lo. Não posso crer que isso seja verdade sobre o Deus cujas misericórdias duram para sempre. Se Deus trata severamente qualquer homem é porque este homem merece tal tratamento. Não haverá nenhuma alma no inferno que poderá dizer a Deus que Ele a tratou mais severamente do que merecia. Toda alma perdida irá culpar-se a is mesma. Ela saberá que foram suas próprias obras malignas que a levaram ao inferno. É caso de justiça, se Deus tiver de condenar um homem.” ("Sermões Sobre a Salvação", Editora PES, p.p. 74-82)

Fonte: Comentários no blog "O Tempora O Mores"

terça-feira, 15 de junho de 2010

"A verdade não precisa de defesa."

Preto, branco e cinza

por Marcos Soares

Amigos, começo minha reflexão pela teologia. Vejo com preocupação que alguns notáveis ensinadores andam tentando responder a perguntas que Deus mesmo nunca se preocupou em responder. Com medo de ficarem “de mal” com os inquiridores deste século, consideram-se na obrigação (que, rigorosamente, nunca foi sua) de tentar explicar o problema do mal, as mazelas da humanidade, as catástrofes naturais cada vez mais freqüentes, as injustiças, as desigualdades. Diriam alguns que estão bem intencionados, porque, na essência, pode ser que estejam preocupados com a “má fama” que Deus anda recebendo em função de tudo isso. Acham que se eles não disserem nada a respeito, as pessoas não vão mais crer em Deus e assim vamos perder gente boa e preparada das nossas fileiras.

Há algumas falácias neste raciocínio.

Primeiro é que a verdade não precisa de defesa. Muito menos a Verdade absoluta. Jesus Cristo nunca perdeu tempo em arrazoar com os céticos do seu tempo (e eram muitos e influentes) a respeito de suas credenciais messiânicas. Ele nunca se envolveu em discussões com o Sinédrio para provar que era Deus. O mais perto que chegou disso foi fazer declarações explícitas, tais como “Abraão viu o meu dia e se alegrou” e “Antes que Abraão existe, EU SOU” (João 8:56-58), mostrando sua eternidade sem entrar em polêmica. Ele não tinha que se preocupar em provar nada a ninguém. A Verdade não precisa ser discutida. Precisa ser crida. Simples? Simples, mas funciona. Os galileus simples que viram Sua glória manifesta em obras e palavras, creram simplesmente. E nunca se arrependeram disso. Tiveram seus momentos de dúvidas, pensaram em recuar depois da Crucificação, mas sua fé e a misericórdia de Deus os trouxeram de volta ao trilho.

Segundo, a própria Bíblia, revelação completa de Deus ao homem, não se preocupa em explicar e definir todos os mistérios da vida. Quem lê o livro de Jó completo, sem pular os capítulos 3 a 41, encontra um homem no limite do desespero, exigindo e cobrando explicações de um Deus em absoluto silêncio. Jó fala todo tipo de bobagem (atenuadas pelo seu estado deplorável, é fato, mas ainda assim bobagens) sobre o que o Senhor estava fazendo com ele, acusa-o de estar errado no Seu julgamento e no seu trato, cobra explicações, chama Deus para brigar. Alguém que teve o cuidado de contar, contabilizou mais de 600 perguntas no livro todo. No final, quando Deus entra em cena, surpreendentemente Ele não responde a nenhuma delas. Não se dá a explicar nem a resolver a equação do problema do mal, do sofrimento, das injustiças, do mérito humano nem de nenhuma das questões que perturbaram Jó durante os dias terríveis pelos quais passou. Ao contrário, Deus simplesmente coloca um DVD do Animal Planet, mostrando cenas incríveis da natureza fantástica, indomável, por vezes misteriosa e inexplicável. Pede a Jó para que este explique ou controle aquelas cenas. E isto é suficiente para Jó. Deus não se explica. É Jó quem se reduz à sua insignificância diante da grandeza de um Deus Todo-Poderoso. E ele não sabia qual seria o fim da sua história. Ainda estava doente, pobre e sem filhos. Ao experimentar Deus pessoalmente, pela primeira vez na sua vida religiosa, os mistérios e perguntas sem respostas ficam de lado. Esta é questão que precisam compreender os meus queridos irmãos metidos a filósofos.

Terceiro, se o homem natural, rebelde e sem Deus, além de voltar as costas para o seu Criador ainda rejeita o seu chamado de amor; se a Cruz de Cristo, Deus feito homem, Sustentador do Universo abrindo mão de sua glória para morrer da forma como morreu; se o único Deus de que se tem notícia que cumpre a pena no lugar do réu; se nada disso sensibiliza o coração de uma pessoa, não será o arrazoado filosófico que vai conseguir esta proeza. Ninguém é mais convincente do que o Espírito Santo. A vã tentativa de defender Deus contra a argumentação da falida sabedoria humana é, na verdade, um vacilo dos que crêem. Evidencia fissuras na estrutura de sua fé. Denuncia uma tentativa de querer andar abraçando Deus com um braço e a sabedoria humana com o outro.
Existem questões na Bíblia que podem ser discutidas. Há pontos que permitem mais de uma interpretação. Alguns, na verdade, chegam a dezenas de possibilidades. São as zonas cinzentas da Hermenêutica. Porém, há outras questões para as quais não cabe discussão.

Fonte: irmaos.com

Leia este artigo na íntegra aqui.